sábado, 2 de março de 2013

Oito ou Oitenta


Oito ou Oitenta...

Tristeza, falta... seria ironia do destino, seria sentimento proibido, ou mero fruto do acaso... não importa, eles se foram, e agora, você se foi, e ao contrario do que parece, o vazio, o nada, também pode ser acrescido, pelo menos em nossos corações.

A solidão vem com ar de revolta, por mais que longe de loucura cega, mas um caminho de interrogações e saudades loucas daquilo que não se viveu, e então, elaboro minha própria lista monótona, fria... saudades...

Saudades do pai... do filho... já estive dos dois lados...

Saudades do beijo de boa noite, de me ver neles e de mostrar em mim um pouco de quem você é...

Saudade do orgulho de ver crescer um homem de valor, e te apresentar o quanto cresci e quem hoje eu sou.... estive tão perto deles.... estive em suas mãos, mas você optou pelo deixar ir.

Os primeiros passos, o correr, o jogar bola, trocar figurinhas, soltar pipas, sem você, aprendi só, tal como tem sido em quase tudo, na maioria das vezes, daquilo que aprendi... queria ter ensinado a eles.

Como eu queria ter estas lembranças, como é louco sentir falta do que não se viveu, faço forças para lembrar de pelo menos fagulhas da nossa convivência.... tristeza, com você tive tempo, mas a vida nos tomou e consumiu todo ele como uma pequena pedra de gelo a derreter-se em um calçadão em dias de verão, com eles, tive toda vontade do mundo, mas eles se foram tão rápido fazendo a palavra “adeus” tornar-se enciclopédia que com crueldade resumiu aqueles poucos dias.

Será que existem sentimentos proibidos? Por que tiraram o pai do menino? Por que tirar os meninos do pai? Existem perguntas que jamais serão plenamente satisfeitas, mas a vontade de questionar é valida.

Oitenta anos com você... tanto tempo... nenhuma lembrança... faltou coragem? Faltou vontade? Não vou lhe impor este julgo, creio que o vazio em nós é bem representado em nossas palavras de abandono... causando dor em ambos os lados.

Oito dias com eles ... oh tempo cruel!... nenhuma lembrança... sobrou coragem, sobrou vontade, mas igualmente vazio, fica o soar das palavras de um pai abandonado...

Que ironia, o sorriso em meio a lagrimas faz reflexão a vida, a lembrança de que estamos aqui somente para viver, amar, ser amado... a construir nosso castelo com as peças que chegam às nossas mãos, peças muitas vezes sem cor, sem brilho, mas fundamentais para construirmos aquilo que necessitamos de fato enquanto estivermos por aqui...  aqui, nesta vida, onde até oito ou oitenta, podem representar grandes discrepâncias, ou mesmo cruéis semelhanças de uma sina em nosso caminhar.

(A meu pai: Edilio Mendes Ribeiro Netto, a meus filhos: Mateus Valentim Mendes e João Marcos Valentim Mendes)

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